sábado, 30 de janeiro de 2010

Paraíso - Consolação

Estação Consolação,
Sentado observando a movimentação.

Passos largos no final de semana,
Pés que nunca tocam o chão,
Corações embrutecidos.

O cinza das paredes agora reflete em nossas almas,
Olhares fixos em direção ao horizonte buscando forças para superar nossos traumas.

Perdidos em seus próprios sonhos caminham sem direção,
Ninguém sabe onde chegar, caminham seguindo o efeito manada.

Mentes abduzidas em bunca da glória,
Só um décimo de todos conseguirá seu lugar ao sol,
11 milhões de almas embrutecidas e perdidas.

Muitos a sua volta,
A quantidade já não minimiza a solidão,
Nos prega uma falsa ilusão.

Todos em suas próprias bolhas,
Relações superficiais,
Modelagem de comportamentos artificiais.

A palavra de ordem é "vença",
Não importa a sua crença,
A vida as vezes é injusta e nos prega peça.

São Paulo já não é mais santo,
Garotos em bando roubaram seu manto,
Agora virou as costas mostrando todo seu desencanto.

O mesmo sangue já não justifica compaixão,
Vou todo dia do Paraíso a Consolação,
Queda livre dos sonhos rumo a colisão com o chão,
Corpo cheio de cicatrizes a caminho da crucificação,
Agora perdido nas letras que compoem a palavra realização.

Wagner Marcelo "W3M"

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Intelecto capitalizado

Busca da superioridade contemporânea,
Presos em suas cadeiras do conhecimento,
Quadros que despejam respostas semi-prontas.

Pensamentos dispensados,
Real condição humana dissipado.

Consumidores do erudito,
Identidade auto-colante no peito,
Rótulos representativos.

Estampas vendidas no varejo,
O importante não é ser,
Incorporem novos contos de fada em destaque na prateleira.

Fronteira da atuação ultrapassada,
Trincheiras agora engarrafadas,
Cheias dos que se negaram a permancer no palco.

Focados no destaque,
O diferênciado se torna reverênciado,
Todos querem atenção com pouco ou quase nada a dizer.

Consumo cultural massivo,
Olhares com ares de superioridade,
Tornar-se culto foi capitalizado.

Linha de montagem aberta,
Falsas ideologias fabricadas,
Acabamento final dado pelo certificado.

Mais um rótulo auto-colante no peito,
Falsos penduricalhos do abra-te césamo,
Andem cautelosamente para que não caiam,
Nova fórmula usada, agora não desgruda e não molha.

Aprovados para viverem a mais nova concepção,
Ações de marketing atuantes na vida privada,
Por todo canto vidas institucionalizadas.

Repitam o decorado como papagaios treinados,
Iludidos a pensarem que são novos pensadores,
São apenas a bola da vez do banco de atores.

Voem pelas árvores e dissipem seu canto conturbado que lhe foi ensinado,
Árvores lotadas por aves que agora gorjeiam atropeladamente,
Largada dada, ganha quem tem mais fôlego e persistência,
Idéias boas afogadas, abandonadas pelos que não buscam o estrelato.

Fui pego pela mesma amardilha?
Agora me sinto O superior!
Me diferênciei da massa com os meus pensamentos.

Vou me dirigir em breve a mais próxima livraria,
Comprarei o livro que ninguém entendeu,
Assim demonstrarei meu intelecto e capitalizarei o mais novo mercado.

Wagner Marcelo "W3M"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Telhado de gotículas

Medo talvez inconsciente,
Talvez resultado de toda uma vida,
Olhares atentos buscando a previsibilidade.

Um gato escaldado,
Escondido com medo de todos,
Tornou-se arisco, um gato do mato.

Sentimentos evaporados,
O medo faz parte de todos os meu átomos,
Situações previsíveis, ambiente simulado.

Envolvendo-se dia-dia,
Mãos entrelaçadas,
Caminhos bifurcados,
Mais duas vidas enlatadas.

A felicidade não é constante,
Será esse o tempero da vida?
Condimentos que não estavam rotulados,
Embalagem com falta de informações?

Latas iguais em uma mesma caixa,
Caixas empilhadas em todos os lugares,
Em baixo de tetos de concretos,
Em frente de lareiras,
Algumas andando em caixas de metais sobre rodas.

Caixas empilhadas em um galpão gigante,
Telhado de gotículas de água condensada,
Sentimentos em constante evaporação,
Formando o telhado da nossa "civilização".

Wagner Marcelo "W3M"